sexta-feira, 18 de novembro de 2011

sexo depois dos 40


Sexo depois dos 40
(agora fora das telas)

Com os avanços da medicina e da estética,
homens e mulheres encaram a meia-idade com
viço, vigor e vida sexual muito mais ativa

Aida Veiga

Fotos Warner Bros.

No cinema, uma arte que imita a vida, a cena já não causa espanto algum. Sexagenários conquistam garotas quarenta anos mais jovens (Sean Connery, 68, e Catherine Zeta-Jones, 29, em A Armadilha). Casais para lá de maduros se apaixonam, se beijam, se despem e vão para a cama juntos (Clint Eastwood, 65, e Meryl Streep, 45, emAs Pontes de Madison). Mulher quarentona esbanja sensualidade e ardor diante de senhor igualmente madurão (Rene Russo, 45, e Pierce Brosnan, 46, em Thomas Crown – A Arte do Crime). Cada um desempenha seu papel como se fosse a coisa mais natural do mundo, e o público aplaude porque já descobriu na vida prática que é exatamente o que está acontecendo. Homens e mulheres na faixa dos 40 aos 60 anos mantêm atualmente uma vida sexual muito mais ativa do que a que tinham seus pais e avós na mesma idade.
Antonio Milena
"Chego em casa me sentindo disposto para namorar. Nós vivemos bem porque ainda nos preocupamos em seduzir um ao outro"
Juarez Aguilar, 47 anos


Trata-se de uma reviravolta comprovada por números – mesmo se levando em conta que, nas pesquisas sobre o assunto, a linha entre fato e fanfarrice é tênue. Na primeira metade do século XX a meia-idade era considerada uma faixa etária praticamente assexuada. O relatório Kinsey, primeira pesquisa em grande escala sobre sexualidade, divulgada nos Estados Unidos em 1948, apontou que, na faixa dos 40 anos, as pessoas faziam sexo, em média, 26 vezes por ano, e na dos 50, dezesseis vezes. De lá para cá, a vida sexual ficou bem mais animada entre a turma grisalha – que, aliás, também deixou de ser grisalha. A National Health and Social Life Survey (NHSLS, Pesquisa Nacional sobre Saúde e Vida Social), uma espécie de atualização do relatório Kinsey, realizada em 1998, mostrou que a freqüência de atividade sexual pulou para 64 vezes por ano entre quem está na faixa dos 40 e para 48 na dos 50 anos. O Brasil não possui esse tipo de estudo nacional, mas outros dados confirmam a mudança. Segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde em 3.600 domicílios em todo o país, 86% dos brasileiros são sexualmente ativos entre 41 e 55 anos de idade – bem mais que os 66% alcançados entre jovens de 16 a 25 anos. "Quem tem 40, 50 anos hoje não tem cara de avô, não se veste como avô nem se comporta como avô", observa Maria do Carmo de Andrade Silva, 47 anos, psicóloga e coordenadora do primeiro curso de mestrado em sexologia na América Latina, na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. "Já era esperado que minha geração, quando chegasse a essa idade, desejaria e procuraria sexo com muito mais freqüência e prazer do que nossos pais."

Ricardo Benichio
"Como são poucos os homens disponíveis da minha idade, fico com os moços que têm pique"
Márcia Marino, 44 anos


Essa geração de meia-idade não só deseja e procura como encontra o sexo, graças a uma sociedade menos preconceituosa, aos avanços da medicina nessa área e ao empurrão da cosmética. A indústria já oferece Viagra para os homens e o Eros para as mulheres, um aparelho contra a frigidez. Há terapias de reposição hormonal que as despertam para a segunda vida sexual. Nas clínicas e consultórios, potes de cosméticos, ácidos e até uma toxina, o Botox, fazem milagres na remoção de rugas e no rejuvenescimento da pele. Junte-se a isso lipoaspiração, plástica, esportes, dietas, ginástica e moda mais acessível, e está pronta a receita de quarentões e cinqüentões mais bonitos, mais atraentes e mais confiantes. "Quem acredita hoje em dia que o sexo não é mais necessário nessa faixa etária, provavelmente não gostava muito de ter relações sexuais quando jovem", analisa Marilene Vargas, membro do comitê científico da Sociedade Internacional de Sexologia e da Sociedade Mundial do Estudo da Impotência.
Parceiros mais jovens – A mudança de comportamento não atinge todo mundo, claro, até porque quem vira os 40 e quer continuar ativo e bem disposto precisa ter acesso a muita informação e dispor de um extra na conta bancária. Mesmo assim, ela abrange boa parte dos mais de 19 milhões de brasileiros que têm entre 40 e 59 anos. Um bom indício é a contabilidade dos casamentos de homens maduros com menininhas e de senhoras com garotões. Dados recém-tabulados pelo setor de registro civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que compara os anos de 1978 e 1996, mostram que no período o número de casamentos de homens e mulheres de 40 a 59 anos com jovens de 20 a 29 anos duplicou. Entre os homens, o aumento de 4.239 para 7.483 uniões é significativo, mas não chega a surpreender. Mais espantoso foi o avanço entre as mulheres, de 503 para 1.431 uniões oficiais, num universo em que a atividade sexual entre gente acima de 40 não passa pelo cartório na grande maioria dos casos. Além disso, as mulheres ainda se envergonham de casar de papel passado com um parceiro muito mais jovem. Preferem ficar no relacionamento não oficializado pelo escrivão. A produtora paulista Márcia Marino, 44 anos, casou-se pela primeira vez com um homem mais velho. Durou cinco anos. Casou-se pela segunda vez com um rapaz nove anos mais jovem. Ficaram quinze juntos. Desde que se separou, só namora gente da idade de seu filho mais velho, de 23 anos. "Como são poucos os homens disponíveis da minha idade, acabo ficando com os moços, que têm pique para me acompanhar tanto na cama como fora dela", diz Márcia. Como muitas mulheres de sua idade, ela é mais liberada, mais segura e mais capaz de sentir prazer na atividade sexual que a geração anterior à sua. No entanto, sente falta de um parceiro estável – os homens de sua faixa etária, em geral, ou fogem de compromisso ou não se interessam por mulheres acima dos 25. "Gostaria de encontrar alguém mais velho que me entendesse, tivesse a minha cabeça", admite ela.
Milagre e perigo – Driblar o peso da idade no desempenho sexual é batalha diuturna, que exige empenho e dedicação. Dificuldade de ereção, ejaculação precoce, diminuição da libido, tudo triplica com o passar dos anos. Pesquisa feita com 1.082 homens entre 1998 e 1999 pela Fundação Oswaldo Cruz, de Salvador, detectou algum grau de dificuldade de manter o pênis ereto na relação sexual em 40% dos entrevistados de 40 a 59 anos. Isso acontece porque, com o tempo, o corpo cavernoso do pênis fica mais flácido, o que dificulta a entrada do sangue, que possibilita a ereção. Também atrapalham as doenças cardiovasculares e neurológicas, o fumo e tudo o mais que possa provocar entupimento de artérias. Sem falar no lado psicológico. "Qualquer problema que abale a autoconfiança do homem também pode levar à impotência", afirma o urologista Celso Gromatzky, professor de medicina da Universidade de São Paulo (USP). Todos esses maus espíritos, no entanto, foram em boa parte exorcizados em 1998 com o advento do Viagra, um comprimido que, tomado uma hora antes da relação, garante a ereção motivada pelo desejo sexual. Um efeito colateral do Viagra foi demonstrar a extensão da preocupação dos homens com o desempenho sexual: a cada ano, são consumidos no mundo 130 milhões de pílulas azuis – sem falar nas concorrentes, que não param de surgir, cada qual mais rápida e eficiente que a outra. "Com os cabelos grisalhos, mais gordo e com menos vigor físico, o homem fica inseguro, e isso afeta sua performance. É esse grupo que consome Viagra – e é para ele que melhor se aplica o remédio", atesta o médico Miguel Srougi, professor de urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Selmy Yassuda
"Sou da época do amor livre, mas prefiro a relação que tenho agora, com intimidade e sem cobranças"
Eduardo Uchôa, 50 anos


Outra arma poderosa na batalha pelo bom desempenho sexual é a testosterona, hormônio masculino responsável, entre outras coisas, pelo apetite sexual. Na forma sintética, é fornecida em comprimido, adesivo e injeção e ganha em julho a versão em gel. A produção desse hormônio pelo homem cai 1% ao ano a partir dos 40. É uma redução lenta, gradual e, até pouco tempo atrás, aceita pelos homens com resignação. Há cerca de vinte anos, o comprimido foi inventado para resolver o problema de quem apresentava baixo nível do hormônio antes do tempo. De repente, o clique: por que não usar o medicamento para melhorar a libido de todo mundo, mais jovens e mais velhos? Quando consumida sem necessidade, a testosterona aumenta a ansiedade, o volume das mamas e o risco de câncer – no fígado e na próstata –, além de contribuir para a infertilidade. "Ela deve ser usada com cautela, porque há riscos, e sérios", alerta Gromatzky. Mesmo assim, no mundo, em geral, e nos Estados Unidos, em particular, a testosterona vem sendo consumida com a avidez de droga milagrosa. Com a versão em gel, espera-se um faturamento de 2 bilhões de dólares nos próximos dois anos para os produtores.
Qualidade x quantidade – A testosterona, com sua capacidade de aumentar a libido, também é popular entre as mulheres. "Embora não seja relevante no funcionamento sexual feminino, esse hormônio estimula o aparecimento do desejo", explica Eduardo Tomioka, professor de ginecologia da USP. "Se a mulher não está feliz com sua vida sexual, sente falta de disposição e vontade, ele pode ajudar", diz. A testosterona, no caso, é uma espécie de chantilly no esquema de reposição hormonal a que a mulher de hoje se submete para se manter rejuvenescida e sexualmente bem disposta depois dos 40, 45 anos. Nessa idade, começa a diminuir o nível de estrógeno, um dos hormônios femininos. E tudo, por assim dizer, desaba. A pele perde o frescor e os músculos relaxam. Quando o estoque de estrógeno diminui, na menopausa, as paredes vaginais perdem a elasticidade, a lubrificação fica prejudicada e a penetração torna-se mais difícil e dolorida. Por muito tempo foi assim e pronto. Agora, as senhoras espertas ingerem estrógeno sintético e no mínimo adiam por vários anos a chegada dos sintomas. Os benefícios da reposição hormonal são conhecidos desde os anos 50, mas só há uma década o Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia classificou o método como razoavelmente seguro. Ainda se discute até que ponto a reposição artificial de hormônios pode facilitar o surgimento de câncer de mama e doenças cardiovasculares, mas quem ouve falar de seus benefícios em geral decide correr o risco. "Em meu consultório todas fazem", atesta o ginecologista Tomioka.

Ricardo Benichio
"Estou com a saúde em dia, corpo em forma, realizada na profissão. Estou viva – e isso inclui o sexo"
Matilde Sposito, 44 anos


A médica Matilde Sposito, 44 anos, especialista em fisiatria e estética e professora da Unifesp, faz e recomenda a reposição hormonal. "Minha mãe penou com a menopausa. Todas as mulheres sentiam dor durante o ato sexual, ficavam mal-humoradas, sofriam calores e engordavam. Desse jeito, não dava mesmo nem para pensar em sexo", analisa. "Agora, eu e todas as minhas amigas estamos com a saúde em dia, o corpo em forma e profissionalmente realizadas. Tenho projetos de vida em todos os sentidos. Estou viva – e isso inclui o sexo também", diz Matilde, que é casada há vinte anos com o publicitário Leonardo, 52. Os dados recolhidos na pesquisa americana NHSLS têm um lado positivo: se vários problemas sexuais surgem com a idade, outros diminuem com o tempo. As americanas de 18 a 29 anos sentem menos interesse por sexo, vivem mais ansiosas com seu desempenho e têm mais dificuldade para chegar ao orgasmo que as que estão entre 40 e 59 anos. "A sexualidade da mulher e do homem nessa faixa etária sofre influências distintas", avalia Edward Laumann, professor da Universidade de Chicago e responsável pela NHSLS. "Ambos têm problemas decorrentes do envelhecimento. Mas as mulheres ganham com a maturidade e a experiência, enquanto os homens, não." Nem todos eles reclamam, porém. O psicólogo carioca Eduardo Prado Uchôa, 50 anos, casado pela segunda vez, não faz mais tanto sexo quanto aos 20, entretanto acredita que, no balanço geral, a qualidade de hoje vale mais que a quantidade de ontem. "Fui da geração hippie, da época do amor livre. Todo mundo ficava com todo mundo, mas era um padrão imposto. Fazia meu papel, mas prefiro a relação sexual que tenho agora, com intimidade e sem cobranças", afirma.
Mais maduros, mais prazer – Engana-se, no entanto, quem acha que, nessa situação ideal – bem de vida, bem-cuidado, estimulado para o sexo –, basta estalar os dedos que logo aparece um parceiro. O físico pode estar o.k., porém, como sempre, perseverar é preciso. A educadora paulistana Penha Lopes, 56 anos, está casada há 37, tem três filhos e um neto. Durante anos, teve uma relação sexual convencional com o marido. Quando ambos chegaram aos 40, começaram a buscar novidades. "Íamos ao motel, assistíamos a vídeos e fazíamos um sexo bem mais prazeroso", lembra ela. Elson, o marido, não acompanhou seu passo, e eles se separaram, mas reataram depois de quatro anos. "É muito fácil ser engolido pelo papel de mãe e avó. A idade diminui o desejo, mas não é nem de longe o fim da linha. Para manter o desejo, um precisa estar sempre estimulando o outro", ensina Penha.

"Transávamos mais quando jovens, mas a insegurança e os problemas de casa eram muitos e não tínhamos satisfação"
Renato Maia, 48 anos


Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, 68% dos brasileiros com mais de 45 anos se declaram satisfeitos sexualmente – isso na era pré-Viagra, em janeiro de 1998. Prova de que, antes da chegada das drogas fenomenais, mudou primeiro o modo de pensar e se comportar na meia-idade. No decorrer dos últimos cinqüenta anos, o cenário foi se transformando. Vive-se mais tempo, a mulher trabalha fora, existem mais opções de lazer e o cuidado com o corpo virou coisa obrigatória. Resultado: aos 40, 50, 60 anos, homens e mulheres não se sentem velhos para o amor e o sexo. "Depois de anos de análise, fazemos sexo melhor justamente porque estamos mais maduros e, ao mesmo tempo, nos preocupamos em permanecer em forma", conta o arquiteto paulistano Renato Maia, 48, casado com a arquiteta Uche há 22 anos. "Podíamos até transar mais quando jovens, mas a ansiedade, a insegurança, os problemas de casa eram muitos e não tínhamos tanta satisfação."
Cirurgias e disfarces – Com a mudança no estilo de vida dos quarentões, o número de óbitos por doenças coronarianas nesse grupo caiu 50% desde 1970. As mortes por câncer diminuíram um terço. É claro que um casal de cinqüentões nunca terá a mesma disposição dos tempos da lua-de-mel. A partir dos 20 anos, perde-se massa muscular, e o metabolismo fica mais lento. Ingerindo o mesmo número de calorias, todo mundo ganha 4 quilos por década depois dos 30 anos. A vista funciona mal, os dentes ficam manchados. Antigamente, tudo isso ficava ali, à vista de jovens e velhos. Hoje, disfarça-se com bastante ginástica, cremes, plásticas e vitaminas. O ronco é resolvido com cirurgia; a calvície se previne com um comprimido diário.

Ricardo Benichio
"É muito fácil ser engolida pelo papel de mãe e avó. A idade faz diminuir o desejo, mas não é de jeito nenhum o fim da linha"
Penha Lopes, 56 anos


Quem se cuida vai empurrando a velhice com a bem malhada barriga, como atesta o analista financeiro paulista Juarez Aguilar, 47 anos. Ele passa três horas por dia numa academia de ginástica em São Paulo. "Chego em casa muito mais disposto para namorar", afirma ele, que cortou frituras e gasta 200 reais por mês em suplementos vitamínicos com o incentivo da mulher, Salete. "Nós vivemos bem porque ainda nos preocupamos em seduzir um ao outro", diz Juarez.

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